O Sudão iniciou um percurso rumo à democracia e merece a nossa atenção, a nossa solidariedade e o nosso apoio.
Vivemos tempos turbulentos do ponto de vista geopolítico. Compreensivelmente, os acontecimentos negativos ou preocupantes atraem as nossas atenções. Por isso, quando há um desenvolvimento positivo importante – como uma revolução democrática e pacífica –, devemos reconhecê‑lo e apoiá‑lo. É o caso do Sudão, que iniciou um percurso rumo à democracia e merece, mas também precisa, da nossa atenção, da nossa solidariedade e do nosso apoio.
Os jovens trazem os ventos da mudança
A população do Sudão é muito jovem, com uma idade média inferior a 20 anos. Isto significa que quando o povo sudanês saiu às ruas para protestar pacificamente contra 30 anos de ditadura, a maior parte da população do país nunca tinha conhecido outra realidade. No entanto, mobilizou‑se para uma mudança em prol da liberdade, da paz e da justiça.
Quando visitei o Sudão em fevereiro passado, durante a minha primeira missão em África, conversei com muitos estudantes na Universidade de Cartum. Tive a oportunidade de ouvi‑los, de prestar homenagem às suas ações e de dizer‑lhes em pessoa que eles – as raparigas e os rapazes do Sudão – mostraram ao mundo que "o povo é poder" e que a mudança política pode ser ao mesmo tempo pacífica e bem sucedida.
O Sudão como futuro líder da estabilidade regional
Tal como estes jovens sudaneses, cresci num país, a Espanha, que foi governado durante décadas por um ditador. Tornar‑se uma democracia permitiu a Espanha aderir em 1986 à União Europeia – que na altura se designava Comunidade Europeia – e inaugurar um período de liberdade, de democracia e de desenvolvimento económico. A nossa experiência na Europa tem mostrado que a integração regional tem importantes efeitos positivos na paz, na democracia e no desenvolvimento económico.
Desejamos que o Sudão desempenhe um papel forte na região, promovendo uma maior cooperação e estabilidade regionais. Isto é especialmente importante à luz das graves condições de segurança existentes à sua volta: na Líbia, na Somália, no Sudão do Sul e na República Centro‑Africana.
A solidariedade e o multilateralismo em ação
Os líderes da transição democrática no Sudão arriscaram as suas vidas pelos ideais de uma sociedade democrática – ideais que nós, europeus, tomamos demasiadas vezes como garantidos. Por este motivo, temos para com eles a obrigação de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para concretizar as suas aspirações democráticas, sobretudo num momento em que a pandemia causada pelo coronavírus está a causar graves estragos e a colocar as sociedades e os recursos sob enorme pressão.
Foi por esta razão que ontem, em conjunto com o Governo do Sudão, a Alemanha e a ONU, coorganizámos a Conferência de Parceria para o Sudão. Tínhamos como objetivo coletivo mobilizar o apoio político e financeiro da comunidade internacional para permitir às autoridades sudanesas levar por diante a revolução de 2018/2019 e garantir que não haja um retrocesso.
O resultado correspondeu plenamente às nossas ambições: nada menos do que 50 países e organizações internacionais comprometeram‑se a apoiar o programa de reforma do país. Em conjunto, mobilizámos 1,6 mil milhões de euros, dos quais 770 milhões foram disponibilizados pela União Europeia e pelos seus Estados‑Membros (Equipa Europa).
Isto não é um sucesso menor: enviámos uma mensagem forte e aliámos os atos às palavras, incentivando o Sudão no seu caminho para a democracia, o Estado de direito e o desenvolvimento.
A Conferência de Parceria para o Sudão constituiu um marco importante. Mas a instauração da democracia é uma viagem, não um acontecimento isolado. O povo do Sudão deve saber que pode contar com o nosso apoio ao longo de todo o caminho.